quinta-feira, março 11, 2004
A partir desse dia procurava sentar-me com meu primo dentro do campo de visão daquele cara, até que um dia percebi que ele me olhava. Era um olhar rápido, seus olhos não paravam de sondar o pátio do presídio, mas um olhar que sempre voltava até onde eu estava. Decidi que faria aquele olhar parar em mim e “sem querer” esbarrei minha mão no vestido fazendo com que ele subisse pelas minhas coxas e abri minhas pernas deixando minha calcinha à mostra e, foi quando percebi que ele olhava fixamente para elas, mas mesmo assim, eu não fiquei satisfeita, seu olhar era vazio, não era um olhar que desnudava, era um olhar que atravessava a pele, como o frio, e me incomodava. Despedi-me do meu primo mais cedo do que de costume para tentar alguma aproximação. Quando levantei para sair, resolvi que caminharia rente ao muro para poder passar em frente ao cara e ao passar, senti que ele me olhou da cabeça aos pés, mas não falou nada e nem se mexeu então me apressei em direção à saída, mas quando estava próxima dela, fui impedida de continuar a andar, por um braço que surgiu abruptamente à frente do meu rosto e pousou a mão no muro. Era ele, com o mesmo olhar frio e vazio me interrompendo o caminho.
- O que você quer?
- Como assim o que eu quero? Não entendi.
- Não responda uma pergunta com outra pergunta. Você ficou sentada no pátio com as pernas abertas, toda arreganhada na minha frente, deve estar querendo alguma coisa. O que você quer?
Perguntou-me novamente, virando-se para encostar-se no muro, ficando na mesma posição de sempre. Nesse momento pude ver o imenso demônio que ele trazia tatuado em todo o seu dorso. Por um instante minhas pernas tremeram, não sei se de medo ou pela pergunta feita de maneira rude e direta. Tomei coragem e respondi com um sorriso debochado no rosto:
- Quero sentir seu nervo me rasgando enquanto minhas carnes te apertam.
Eu mal terminava de falar quando ele pegou-me pelo braço e saiu me arrastando pelo pátio, em direção à saída, disse-lhe que estava me machucando apertando meu braço daquele jeito, mas seu rosto não esboçou nenhuma reação, seu olhar permanecia vazio e ele continuava a me puxar pelo braço sem nada dizer e fomos assim até pararmos em uma sala onde estavam alguns carcereiros, entramos e ele lhes disse:
- Esta aqui é minha mulher.
Achei que tinha entendido mal, mas me lembrei que aquela era a única maneira de se conseguir visita íntima em um presídio. Permaneci calada e assinei o documento. Vi que ele se chamava Cícero.
Ao sairmos da sala, ele passou a mão pelos meus cabelos, beijou minha testa, disse-me que esperaria ansioso pelo próximo dia de visita e subiu a mão por entre minhas pernas. Vi pela primeira e última vez um sorriso em seu rosto.
continua...