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terça-feira, junho 08, 2004
Uma vez, não querendo mais me machucar, me dei minha palavra de que nunca mais iria falar o que sinto, me abrir, me entregar, me iludir com ninguém, custe o que custasse.
No sábado, recebi a notícia de que tinha perdido um familiar que cresceu comigo. Não costumo chorar pela morte das pessoas que foram boas e que seguiram um bom caminho, mas quando sei que o caminho escolhido por alguém, leva a sofrimentos, isso me entristece e a morte dessa pessoa, foi o resultado do caminho que ela escolheu.
No domingo, seria o enterro e eu queria muito ir, mas mudaram o horário na última hora e eu saí de casa atrasada. Nunca senti nada igual. Você sair de casa para ver uma pessoa, sabendo que talvez não chegue a tempo de vê-la e essa seria a última chance de fazê-lo. Fui pelo caminho pensando na última oportunidade perdida e comecei a lembrar das pessoas que passaram e que estão na minha vida e que não sabem o que realmente eu penso, o que eu sinto por elas e até mesmo, quem é a Flávia, porque não me deixo conhecer, porque prometi não deixar que venham a me ferir novamente, porque acho que para algumas pessoas não faz diferença o que sinto e não faz mesmo, mas como saber quem são essas pessoas, se nunca sou ou estou inteira.
Nossa! Quantos momentos bons me recusei a ter por pensar no depois, no medo de sair machucada e até no que as pessoas iriam pensar! Quantas pessoas não se tornaram mais próximas porque fugi desse contato. Quantas pessoas me proporcionaram e proporcionam coisas boas e não sabem, porque não digo.
Eu morro de medo de altura, porque no meu medo eu me imagino despencando e me espatifando no chão, não confio nos equipamentos de segurança, enfim, sempre me vejo caindo de lugares altos, mas não perco a oportunidade de me jogar do alto de algum brinquedo, nem que seja apenas uma vez. Eu luto contra as dores nas pernas e as tonteiras e vou, porque sei que o caminho até o chão é divertido, o frio na barriga e o suor fazem parte da adrenalina e isso é muito gostoso.
Agora, antes de dizer um não, antes de me omitir, antes de fugir e me esconder, vou lembrar do meu medo de altura e do esforço que faço para vencê-lo.
Hoje me vi pensando nos caminhos que não segui, nas opções que não fiz, no que seria diferente na minha vida, se tivesse me arriscado mais, se tivesse ido mais fundo nas oportunidades que surgiram.
Eu que cuidei tanto para que não me machucassem, no domingo, percebi que aquela dor imensa que eu estava sentindo e que só vem aumentando, foi uma dor que eu mesma plantei quando comecei a me camuflar.

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u Fogosa Para os Íntimos

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